Fernando Pessoa
O Suspiro do mundo: - Vida, morte,
O Suspiro do mundo:
Vida, morte,
Riso, pranto
É o manto
Que me cobre.
Natureza,
Amor, beleza,
Tudo quanto
A alma descobre.
O Mistério
Deste mundo
Teu profundo
Olhar leu;
D'além dele —
Cerra a alma
De pavor! —
Venho eu.
Nada, nada
Já acalma
Tua dor.
Tu bem sabes
Ser minha voz
Mais atroz
De mudo horror
No que não diz,
E só tu sentes
E compreendes.
Cerra, infeliz
Cerra a (tua) alma
Ao meu pavor!
(Fausto, com os olhos fechados, encolhido na cadeira, treme como que dum grande frio.)
s.d.
Fausto - Tragédia Subjectiva . Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.
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