Fernando Pessoa
Meu pobre Portugal,
Meu pobre Portugal,
Dóis-me no coração.
Teu mal é o meu mal
Por imaginação.
Tão fraco, tão doente,
E com a boa cor
Que a tísica põe quente
Na cara, o exterior.
Meu pobre e magro povo
A quem deram, às peças,
Um fato em estado novo
Para que o não pareças!
Tens a cara lavada,
Um fato de se ver
Mas não te deram nada,
Coitado, que comer.
E aí, nessa cadeira,
Jazes, apresentável.
(…)
O transeunte amável.
8-11-1935
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
- 235.