Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

ORTOGRAFIA - 1.a regra.

Ort[ografia]

1.a regra. — Cada palavra deve, quanto possível, formar uma unidade (ou entidade) gráfica, sendo pois inconfundível com qualquer outra, ainda que essa se pronuncie da mesma maneira e, em certos casos, tenha, até, a mesma origem etimológica. (São exemplos as palavras coser e cozer, carta (no sentido de epistola) e charta (no sentido de mapa ou diploma). (No primeiro caso há, embora a pronúncia seja idêntica, uma diversidade de origem; no segundo caso, sendo a pronúncia e a origem idênticas, há todavia uma notável diferença de sentido, pois a palavra que escreveremos carta se afastou do sentido etimológico, a que a palavra charta continua ligada.)

2.a regra. — Essa diferença de palavra a palavra incide sobre a base consonantal, pois a distinção vocálica é sempre fácil por meio de acentuação. (Isto no caso de pronúncia diferente — note-se.)

3.a regra. — Sempre que uma palavra nacional se tenha afastado em sentido da palavra latina ou grega de que se deriva, deve fazer-se o possível por nacionalizar a sua grafia, afim de evitar conclusões erróneas baseadas na origem etimológica. (É o caso, por ex., da palavra que escreveremos assunto. Trata-se da forma segunda do particípio passado de assumir (assumpto). A palavra assunto nada tem porém com o assumir-se qualquer coisa; significa simplesmente matéria de conversa ou discussão.)

s.d.

Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

 - 123.