Chamaram-o os Deuses, ainda tão novo, à região inferior onde a mágoa não chega...
Chamaram-o os Deuses, ainda tão novo, à região inferior onde a mágoa não chega e o prazer não desce. Sem duvida que o fizeram pelo dom evidente da sua sabedoria não perfeita, mas mais perfeita que a nossa. Aqueles actores (...) de que somos apenas os títeres, sabem em sua razão mais lata, por que influxo das estrelas, baixou tão cedo à terra-origem o seu filho que mais a amou. Tudo nos é velado, sonho, entre um sono e outro sono, esta curta visão radiosa do perfeito e incompleto universo.
«É difícil escrever com paciência de todos os imitadores de uma imitação do paganismo.
Talvez nunca ireis ver a perfeita imitação daquela fábula do Colombo e do ovo.
O tom «moderno» de muitos dos seus versos é o que mais lamento. Nenhuma obra tem direito a que a coloquemos no tempo.
O traço franciscano de alguns resultados métricos da sua sensibilidade. São Francisco foi o abominável fundador de uma seita abominável.
O seu paganismo é ateu. É apenas paganismo. Nem o Destino, nem a Vontade anterior aos Deuses, aparece na sua obra.
O máximo da simplicidade com o máximo da originalidade.
É tão simples, que é complexo para nós, que estamos habituados a chamar simplicidade à complexidade.»
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,
1994.
- 183.Ordenação corrigida segundo:
Fernando Pessoa e o Ideal Neo-Pagão - Subsísios para uma edição crítica . Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição de Luís Filipe B. Teixeira.) Lisboa: F. C. Gulbenkian, 1996.