Da Ditadura à República - Prefácio
Da Ditadura à República
Prefácio
A publicação deste livro, tão relativamente sobrevindo à implantação da República, poderá, por razões várias, porém inoportunas, ser [?] arriscada e infeliz.
Pode parecer arriscada, porque — dir-se-á — não passou ainda sobre os acontecimentos o tempo suficiente para deles poder ser feita uma análise rigorosa e imparcial. Responderemos, sem custo, que se se tratasse apenas de uma obra histórica, como antigamente a história se entendia, um relato, isto é, de factos, sem grandes pruridos de encontrar o lógico encadeamento das causas, e de todo alheia a uma compreensão sociológica dos acontecimentos — nesse caso, repetimos, se assim escrevêssemos história, bem nos poderiam objectar que era cedo para capazmente o fazer. Seria cedo objectivamente, e cedo subjectivamente. Objectivamente porque pouco tempo decorrera desde os acontecimentos da revolta, e a documentação próxima, por jornalista, e [...], tende a ser fragmentária e [...] Subjectivamente porque o espírito do cronista, não despido ainda das forças que tendem para a parcialidade ou para o entrave da imparcialidade vasta, facilmente poderia cair, cego e confiante, no erro de confiar em si mesmo.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
- 2.