Na proporção em que Cristo é, não um deus,
Na proporção em que Cristo é, não um deus, ou um semi‑deus judeu, mas o Logos abstracto dos gnósticos, ponto intelectual por onde passa a emanação divina — o cristianismo é legítimo, porque é um completamento, um prolongamento, um aprofundamento do paganismo. Tanto é um prolongamento do paganismo que não entra em conflito com ele. Pagãos eram os filósofos neoplatónicos da escola de Alexandria.
Se os gnósticos são antipagãos é porque são já a absorção pelo cristianismo do neopaganismo alexandrino; são, mais propriamente, o transcendentalismo contra o materialismo em que havia caído o paganismo decadente.
Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
- 107.