A decadência portuguesa atravessou três fases:
Considerações pós-revolucionárias ou — Da Ditadura à República
A decadência portuguesa atravessou três fases: a primeira vai do tempo de D. Manuel, em que começa, ao da anexação à Espanha; a segunda dura desde 1580 até ao aparecimento, em 1820, do constitucionalismo; a terceira é coextensa [?] com a monarquia constitucional.
Ostensivamente a decadência portuguesa tem princípio na anexação à Espanha. Para o sociólogo, porém, o facto de se dar essa anexação prova já uma decadência, um estado anterior de fraqueza, de que esse facto é a manifesta prova.[...]
A anexação de um país por outro não é um facto esporádico e meramente tal facto nem se explica por tão externas considerações como a superioridade de países [...] apenas o como , nunca o porquê da questão. Fundamentalmente as (causas sociais e mais a procurar na decadência do país absorvido do que na força do país absorvente. Não há acidentes na história das sociedades, por muito que às vezes assim pareça; nenhum país morre de desastre, como um indivíduo. Morre de doença rápida às vezes, outras de doença lenta, de velhice outras ainda — mas sempre de morte natural, e fundamentalmente não da doença propriamente, mas do estado de predisposição para essa doença [...]. E a própria velhice, no indivíduo como na sociedade, é uma doença — uma doença normal, decerto, mas nem por isso menos doença.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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