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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Analisando, porém, detidamente, a situação do partido republicano...

Considerações pós-revolucionárias

Analisando, porém, detidamente, a situação do partido republicano quando da revolução de 5 de Outubro, facilmente se descobre a razão de todos estes fenómenos.

Quando uma nação tão baixo desce como desce como desceu Portugal sob a Monarquia; quando a tão pavoroso estado social se chega como ao que chegou a pátria portuguesa sob (...) a nação, de duas coisas uma pode fazer; se não tem vitalidade, sucumbir lentamente, ingloriamente, (...); se ainda a tem, revoltar-se e dar em terra com o regime representativo das forças decadentes, do país. Em situação social tão pavorosamente degradante, o mero facto de se poder fazer uma revolução, uma sublevação vitoriosa é de extraordinário alcance para o sociólogo. Porque na abjecção suprema, quando essa abjecção o é real e supremamente, não cabe nem na alma colectiva, nem em qualquer parcial (...) o poder revoltar-se eficazmente, dominadoramente. Quando numa situação em aparência abjecta ao último ponto se dá um movimento revolucionário vitorioso, o sociólogo conclui que a vitalidade nacional não está extinta ou senil, mas adormecida apenas. Quando em tão pavorosa decadência moral surge vitoriosamente um movimento [?] de revolução, o sociólogo, analisando, é forçado a compreender que o próprio tacto de haver nessa nação a suficiente socialização [?] de energia e de vitalidade, a suficiente disciplina no querer [?], a suficiente esperança e confiança para não ser [...] mas levar a cabo essa revolução, são indícios de ressurgimento, e indícios, para o sociólogo, dos mais possivelmente [?] certos e indiscutíveis. Nação onde esse facto se dá, como agora entre nós se deu, pode ter de atravessar poucas ou muitas crises, mas ressurgirá certamente.

Temos pois como primeiro facto sociológico, como primeira certeza sociológica, que a revolução indica fundamentalmente um começo de ressurgimento nacional.

s.d.

Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.

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