Ricardo Reis
Não torna ao ramo a folha que o deixou,
Não torna ao ramo a folha que o deixou,
Nem com seu mesmo pó se uma outra forma.
O momento, que acaba ao começar
Este, morreu p'ra sempre.
Não me promete o incerto e vão futuro
Mais do que esta iterada experiência
Da mutada sorte e a condição deserta
Das cousas e de mim.
Por isso, neste rio universal
De que sou, não uma onda, senão ondas,
Decorro inerte, sem pedido, nem
Deuses em quem o empregue.
28-9-1926
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
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