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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

ABDICAÇÃO

ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços

E chama-me teu filho.

        Eu sou um rei

Que voluntariamente abandonei

O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,

Em mãos viris e calmas entreguei;

E meu ceptro e coroa, — eu os deixei

Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil

Minhas esporas, de um tinir tão fútil,

Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,

E regressei à noite antiga e calma

Como a paisagem ao morrer do dia.

s. d.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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1ª publ. in Ressurreição , nº 9. Lisboa: Fev. 1920.