Ricardo Reis
Vou dormir, dormir, dormir,
Nirvana
Vou dormir, dormir, dormir,
Vou dormir sem despertar,
Mas não dormir sem sentir
Que estou dormindo a sonhar.
Não insciência e só treva
Mas também estrelas a abrir
Olhos cujo olhar me enleva,
Que estou sonhando a dormir.
Constelada inexistência
Em que subsiste de meu
Só uma abstracta insciência
Una com estrelas e céu.
20-2-1928
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
- 127.