Tudo quanto existe é um efeito e todo o efeito tem uma causa.
Tudo quanto existe é um efeito e todo o efeito tem uma causa.
O mundo existe, portanto é um efeito, portanto tem uma eausa. Se essa causa existe, é um efeito, e portanto tem uma causa, e assim até ao infinito.
A não ser que a causa do mundo seja infinita; porque então o número infinito das causas está substituído, ou incluído, no infinito da própria causa.
Mas a causa produz um efeito que se contém nela. Se a Causa do mundo é infinita, o mundo é infinito também.
Havendo, porém, só uma causa e só um efeito, a Causa é Pura Causa e o efeito é Puro Efeito, havendo, porém, oposição de natureza entre a Causa e o Efeito.
Sendo Causa e Efeito ambos infinitos, a oposição de natureza deve estar na natureza do Infinito.
Há dois infinitos possíveis: o fora-do-número e o inumeral. Como o mundo é plural, será ele o inumeral. A Causa do mundo será o fora-do-número — o Um puro (o indivisível).
Dada a oposição entre Causa e Efeito, sendo infinito o efeito vem o Puro Produzir, Causa o Puro Produzir.
O Um puro e indivisível é o um não sujeito a condição alguma de divisibilidade. O Um puro não existe, portanto, no espaço, ou no tempo, ou em outra forma qualquer, susceptível de medida. [...]
Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.
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