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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Não digas que, sepulto, já não sente

Não digas que, sepulto, já não sente

O corpo, ou que a alma vive eternamente.

Que sabes tu do que não sabes? Bebe!

Só tens de certo o nada do presente.

Depois da noite, ergue-se do remoto

Oriente, com um ar de ser ignoto,

Frio, o crepúsculo da madrugada...

Do nada do meu sono ignaro broto.

Deixa aos que buscam o buscar, e a quem

Busca buscar julgar que busca bem.

Que temos nós com Deus e ele connosco?

Com qualquer coisa o que é que uma outra tem?

Sultão após sultão esta cidade

Passou, e hora após hora a vida, que há-de

Durar nela enquanto ela aqui durar,

Nem ao sultão ou a nós deu a verdade.

30-5-1931

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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