Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Álvaro de Campos

O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual...

O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual...

Fazer filhos à razão prática, como os crentes enérgicos...

Minha juventude perpétua

De viver as coisas pelo lado das sensações e não das responsabilidades.

(Álvaro de Campos, nascido no Algarve, educado por um tio-avô,

padre, que lhe instilou um certo amor às coisas clássicas). (Veio

para Lisboa muito novo...)

A capacidade de pensar o que sinto que me distingue do homem vulgar

Mais do que ele se distingue do macaco.

(Sim, amanhã o homem vulgar talvez me leia e compreenda a substância do meu ser.

Sim, admito-o,

Mas o macaco já hoje sabe ler o homem vulgar e lhe compreende a substância do ser).

Se alguma coisa foi porque é que não é?

Ser não é ser?

As flores do campo da minha infância, não as terei eternamente,

Em outra maneira de ser?

Perderei para sempre os afectos que tive, e até os afectos que pensei ter?

Há algum que tenha a chave da porta do ser, que não tem porta,

E me possa abrir com razões a inteligência do mundo?

s.d.

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

 - 92.