Ricardo Reis
Manhã que raias sem olhar a mim,
Manhã que raias sem olhar a mim,
Sol que luzes sem querer saber de eu ver-te,
É para mim que sois
Reais e verdadeiros;
Porque é na oposição ao que eu desejo
Que sinto real a natureza e a vida.
No que me nega sinto
Que existe e eu sou pequeno.
E nesta consciência torno a grande
Como a onda, que as tormentas atiraram
Ao alto ar, regressa
Pesada a um mar mais fundo.
23-11-1918
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
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