Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.
Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.
Pouco pode o homem contra a externa vida.
Deixa haver a injustiça.
Nada muda, que mudes.
Não tens mais reino que a doada mente.
Essa, em que és servo, grato o Fado e os Deuses,
Governa, até à fronteira,
Onde a vontade finge.
Aí vencido, tu por vencedores
Os grandes deuses e o Destino ostentas.
Não há a dupla derrota
De derrota e vileza.
Assim penso, e esta súbita justiça
Com que queremos moderar as cousas,
Expilo, como a um servo
Intromissor da mente.
Se nem de mim posso ser dono, como
Quero ser dono ou lei do que acontece
Onde me a mente e corpo
Não são mais do que parte?
Basta-me que me baste, e o resto gire
Na órbita prevista, em que até os deuses
Giram, sois centros servos
De um movimento externo.
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
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