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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.

Cumpre a lei, seja vil ou vil tu sejas.

Pouco pode o homem contra a externa vida.

        Deixa haver a injustiça.

        Nada muda, que mudes.

Não tens mais reino que a doada mente.

Essa, em que és servo, grato o Fado e os Deuses,

        Governa, até à fronteira,

        Onde a vontade finge.

Aí vencido, tu por vencedores

Os grandes deuses e o Destino ostentas.

        Não há a dupla derrota

        De derrota e vileza.

Assim penso, e esta súbita justiça

Com que queremos moderar as cousas,

        Expilo, como a um servo

        Intromissor da mente.

Se nem de mim posso ser dono, como

Quero ser dono ou lei do que acontece

        Onde me a mente e corpo

        Não são mais do que parte?

Basta-me que me baste, e o resto gire

Na órbita prevista, em que até os deuses

        Giram, sois centros servos

        De um movimento externo.

29-1-1921

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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