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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ah, como o sono é a verdade, e a única

Ah, como o sono é a verdade, e a única

Hora suave é a de adormecer!

Amor ideal, tens chagas sob a túnica.

Esperança, és a ilusão a apodrecer.

Os deuses vão-se como forasteiros.

Como uma feira acaba a tradição.

Somos todos palhaços estrangeiros.

A nossa vida é palco e confusão.

Ah, dormir tudo! Pôr um sono à roda

Do esforço inútil e da sorte incerta!

Que a morte virtual da vida toda

Seja, sons, a janela que, entreaberta,

Só um crepúsculo do mundo deixe

Chegar à sonolência que se sente;

E a alma se desfaça como um peixe

Atado pelos dedos de um demente...

s. d.

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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