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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

JUSTIFICAÇÃO DO FENÓMENO RELIGIOSO

JUSTIFICAÇÃO DO FENÓMENO RELIGIOSO

1. Tudo é determinismo; tudo é determinado. A liberdade é uma ilusão; não passa, no campo real, de uma ilusão necessária à vida. Para agir, no próprio sentido que seja (e assim tem de ser) do determinismo, é preciso crer que a acção é livre.

2. Se tudo é determinado, um critério orientador da vida será tanto mais falso quanto mais levar cada personalidade a confiar apenas no seu esforço.

3. Dada a (que aqui se não analisa) necessidade do superfísico, i.e. do ideal, à vida humana, para que possa, não só agir (o que é puramente vital, conservador da vida), mas evolucionar (o que é já, evolucionador dela), e dado que o ideal tem de ter um carácter libertador — senão não seria ideal — temos que todo o critério de eficácia tem de assentar nestas bases: (1) não estar em desacordo fundamental com o determinismo natural, (2) estar em acordo com o ideal e o seu carácter libertador, (...)

A . A religião impondo uma crença, substitui ao determinismo natural um outro determinismo , e, assim, passa a fazer assentar a vida humana em base natural.

Assim, a religião tem uma base científica, sociologicamente científica também. O «livre pensamento», tão característico das épocas de decadência, marca a quebra do apoio no determinismo superfísico, no determinismo ideal. Non nisi parendo vincitur ... na criação de um determinismo extra [...] natural, é que está a única possível libertação humana.

B. Serão, porém, todas as religiões iguais a este respeito? Porque todas sejam determinismos superfísicos, equivaler-se-ão, porventura? É o que, agora, compete analisar.

(A religião é representativa de um estado social. É inútil querer uma religião mais perfeita para uma sociedade que não tem em si elementos psíquicos que a sustentem).

s.d.

Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.

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