Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Não é então real o mundo externo?

Não é então real o mundo externo? É: é, porque é o produto de duas realidades — o espírito receptor e a força sobre ele emitida. Do mesmo modo a alucinação é real para aquele que a tem, pois é um produto de duas realidades, a força externa e um espírito receptor. O «mundo externo» porém é produto de duas realidades diferentes: uma a força externa, outra a soma dos espíritos identicamente constituídos. Mais largamente, o «mundo externo» é o produto da força externa sobre a totalidade dos espíritos, ou sobre o espírito universal que involve e porventura é essa totalidade.

Se um espírito consegue impor uma noção ou «alucinação» própria aos outros, torna‑a meio real para eles. Para ser de todo real, é preciso que o espírito consiga impô‑la à universalidade dos espíritos, ou seja ao Espírito universal. Este acto, pelo qual se cria uma coisa, chama‑se um acto mágico, e magia a arte pela qual essa acção se consegue. E como o «non nisi parendo vincitur» se aplica aqui, é preciso, para haver acção mágica, saber como se pode dominar a força externa ao ponto de transformá‑la.

1924?

Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).

 - 41.