Fernando Pessoa
No mal-estar em que vivo
No mal-estar em que vivo
No mal pensar em que sinto,
Sou de mim mesmo cativo,
A mim mesmo minto.
Se fosse outro fora outro.
Se em mim houvesse certeza,
Nao seria o fluido e neutro
Que ama a beleza.
Sim, que ama a beleza e a nega
Nesta vida sem bordão
Que contra si mesma alega
Que tudo é vão.
2-10-1933
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
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