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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Dai-me rosas e lírios,

Dai-me rosas e lírios,

Dai-me flores, muitas flores

Quaisquer flores, logo que sejam muitas...

Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas

Em me dardes muitas flores,

Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço

Que me deis flores...

Sejam essas as flores que me deis...

Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,

Sob o céu cheio de sol!

A minha agonia da realidade lúcida!

Desejo de chorar absolutamente como uma criança

Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,

E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,

Estando eu a chorar naquela posição.

O homem que apara o lápis à janela do escritório

Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.

Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!

É tão fantástico que estas coisas sejam reais!

Olho para ele até esquecer o sol e o céu.

E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.

A flor caída no chão.

A flor murcha (rosa branca amarelecendo)

Caída no chão...

Qual é o sentido da vida?

s. d.

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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Álvaro de Campos?