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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Não como ante donzela ou mulher viva

Não como ante donzela ou mulher viva

Com calor na beleza humana delas

        Devemos dar os olhos

        À beleza imortal.

Eternamente longe ela se mostra

E calma e para os calmos adorarem

        Não de outro modo é ela

        Imortal como os deuses.

Que nunca a alegria transitória

Nem a paixão que busca — porque exige

        Devemos olhar de néscios

        Olhos para a beleza.

Como quem vê um Deus e nunca ousa

Amá-lo mais que como a um Deus se ama

        Diante da beleza

        Façamo-nos sóbrios.

Para outra cousa não a dão os deuses

À nossa febre humana e vil da vida,

        Por isso a contemplemos

        Num claro esquecimento.

E de tudo tiremos a beleza

Como a presença altiva e encoberta

        E o longínquo sorriso

        De quem assiste à vida.

11-8-1914

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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