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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Quero dormir. Não sei se quero a morte,

Quero dormir. Não sei se quero a morte,

Nem sei o que ela é.

O que quero é não ser submisso à sorte,

Seja ela lei ou fé.

Quero poder nos campos prolongados

Meu ser abandonar

Aos seus verdes silêncios afastados,

Que amo só de os olhar.

Quero poder imaginar a vida

Como eIa nunca foi,

E assim vivê-la, vívida e perdida,

Num sonho que nem dói.

Quero poder mudar o universo

De um para outro lado,

Como quem junta o seu viver disperso

E o ata com o fado.

Quero, por fim, ser coroado rei

Do nada a que enfim vou.

Será minha coroa o que serei,

E o ceptro o que sou.

26-8-1934

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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