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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Olho os campos, Neera [4]

Olho os campos, Neera

Verdes campos, e sinto

Como virá um dia

Em que não mais os veja.

Par de árvores cobre

O céu aqui sem nuvens

E faz correr mais triste

A viva e alegre linfa.

Mas por um só momento

Fugaz e passageiro

Esta ideia eu emprego

Para o seu uso triste.

Cedo me volve a calma

Com que me faço o espelho

Do céu imperturbado

E da fonte insciente.

Deixa o futuro, — porque

Não está aqui, não é nada;

Só o fugaz presente

Enquanto dura existe.

Vive a imperfeita hora

Sem olhar além dela

E sem nada esperares

Dos homens, nem dos deuses.

s.d.

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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