Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Tudo que amei, se é que o amei, ignoro,

Tudo que amei, se é que o amei, ignoro,

E é como a infância de outro. Já não sei

Se o choro, se suponho só que o choro,

Se o choro por supor que o chorarei.

Das lágrimas sei eu... Essas são quentes

Nos olhos cheios de um olhar perdido...

Mas nisso tudo são-me indiferentes

As causas vagas deste mal sentido.

E choro, choro, na sinceridade

De quem chora sentindo-se chorar

Mas se choro a mentir ou a verdade,

Continuarei, chorando, a ignorar.

5-9-1934

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

 - 112.