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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Cansa sentir quando se pensa.

Cansa sentir quando se pensa.

No ar da noite a madrugar

Há uma solidão imensa

Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone e triste

Em que não sei quem hei-de ser,

Pesa-me o informe real que existe

Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.

E é uma noite a ter um fim

Um negro astral silêncio surdo

E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.

Mas noite, frio, negro sem fim,

Mundo mudo, silêncio mudo —

Ah, nada é isto, nada é assim!)

9-11-1932

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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