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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

P - De onde vens?

P - De onde vens?

R - Não sei.

P - Onde vais?

R - Não me disseram (sei).

P - O que sabes?

R - O que esperei (Nada).

P - Que vês?

R - Sou cego.

P - Que vestes?

R - Estou nu.

P - Que tens?

R - Só a mim.

P - O que queres?

R - Ver a luz.

P - Que luz?

R - A que houver.

P - Qual é a que houver?

R - A que me for dada.

P - Se te a derem, como a verás?

R - Com meus olhos.

P - Se te a não derem, como a verás?

R - Com o meu coração.

P - Se te a nem derem nem não derem, como a verás?

R - Comigo [?]

P - Que tens ao pescoço?

R - O passado.

P - Que sentes sobre o peito?

R - O futuro.

P - Que tens que te a teus pés olha?

R - O presente.

P - Que sentes?

R - A treva, o frio, e o perigo.

P - Como os vencerás?

R - À treva pelo dia, ao frio pelo sol, ao perigo pela vida.

P - E como obterás o dia e o sol e a vida?

R - Não ficando cego, nem nu nem eu aqui sozinho.

P - Quem te criou?

R - Não sei.

P - Porque o não sabes?

R - Porque nasci.

P - Queres sabê-lo?

R - Sim, porque morrerei.

[Mestre do Átrio] - Basta que me digas sim.

O N[eófito] - Sim.

M[estre do] Á[trio] - A paz seja contigo.

Os nn. retomam as espadas. O SL toma na mão direita a esquerda do Neófito e []

- Tenho [?].

s.d.

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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