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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Em toda a noite o sono não veio. Agora

Em toda a noite o sono não veio. Agora

        Raia do fundo

Do horizonte, encoberta e fria, a manhã.

        Que faço eu no mundo?

Nada que a noite acalme ou levante a aurora,

        Coisa séria ou vã

Com olhos tontos da febre vã da vigília

        Vejo com horror

O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim

        Do mundo e da dor —

Um dia igual aos outros, da eterna família

        De serem assim.

Nem o símbolo ao menos vale, a significação

        Da manhã que vem

Saindo lenta da própria essência da noite que era,

        Para quem,

Por tantas vezes ter sempre esperado em vão,

        Já nada espera.

s. d.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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1ª publ. in Athena, nº 3. Lisboa: Dez. 1924.