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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Que noite serena!

Que noite serena!

Que lindo luar!

Que linda barquinha

Bailando no mar!

Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...

O terceiro-andar das tias, o sossego de outrora,

Sossego de várias espécies,

A infância sem o futuro pensado,

O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,

E tudo bom e a horas,

De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.

Meu Deus, que fiz eu da vida?

Que noite serena, etc.

Quem é que cantava isso?

Isso estava lá.

Lembro-me mas esqueço.

E dói, dói, dói...

Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.

s.d.

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

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