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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Qualquer coisa de obscuro permanece

(dream)

Qualquer coisa de obscuro permanece

No centro do meu ser. Se me conheço,

E até onde, por fim mal, tropeço

No que de mim em mim de si se esquece.

Aranha absurda que uma teia tece

Feita de solidão e de começo

Fruste, meu ser anónimo confesso

Próprio e em mim mesmo a externa treva desce.

Mas, vinda dos vestígios da distância

Ninguém trouxe ao meu pálio por ter gente

Sob ele, um rasgo de saudade ou ânsia.

Remiu-se o pecador impenitente

À sombra e cisma. Teve a eterna infância,

Em que comigo forma um mesmo ente.

23-9-1933

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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