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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Súbita mão de algum fantasma oculto

Súbita mão de algum fantasma oculto

Entre as dobras da noite e do meu sono

Sacode-me e eu acordo, e no abandono

Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto

Trago no coração, como de um trono

Desce e se afirma meu senhor e dono

Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente

Presa por uma corda de Inconsciente

A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra

De um vulto que não vejo e que me assombra,

E em nada existo como a treva fria.

14-3-1917

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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