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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

JULIANO EM ANTIOQUIA [a]

JULIANO EM ANTIOQUIA

O poema simboliza a alma elevada que, num tempo de decadência, luta inutilmente, procura infrutiferamente entravar a corrupção e a degenerescência gerais.

O tema (que deve envolver, à parte este ponto central, outros pontos acessórios) é a estada de Juliano na cidade cristã e corrupta de Antiochia, e escolhe para base um momento em que o Imperador sente bem a diferença moral entre si e os que o cercam e a diferença de força entre a sua personalidade isolada e a inteira estrutura decadente da sociedade que o cerca e que ele «governa».

No tratamento do tema deve vir penumbrado o fim de Juliano.

Quem governa mais longe que só os gestos?

Quem pode mandar mais do que o Destino?

Mithras, meu pai, (...)

Regente inútil de um império extinto,

Portador de um cadáver sobre mim,

Minha vontade morre no precinto

Da minh'alma, sem alma alguma afim.

Meus decretos são água tal qual um

Homem só a consegue arremessar

Sobre o incêndio de um país. Nenhum

Salva o que a si se não pode salvar.

Minha voz em nenhuma alma calha,

Meu trabalho por nada e vil trabalha,

Passeio o esforço meu entre desastres.

s.d.

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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Poema com a indicação «Legendas»