Fernando Pessoa
No fundo do pensamento
No fundo do pensamento
Tenho por sono um cantar,
Um cantar velado e lento,
Sem palavras a falar.
Se eu o pudesse tornar
Em palavras de dizer
Todos haviam de achar
O que ele está a esconder
Todos haviam de ter
No fundo do pensamento
A novidade de haver
Um cantar velado e lento.
E cada um, desatento
Da vida que tem que achar
Teria o contentamento
De ouvir esse meu cantar.
17-3-1931
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
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