Toda a revolução é essencialmente inútil.
Toda a revolução é essencialmente inútil. O indivíduo é um produto de dois factores - a hereditariedade e o meio. Dois indivíduos nascidos no mesmo meio são diferentes pela hereditariedade (pois, mesmo que sejam irmãos, há na hereditariedade o factor chamado «variação») e são semelhantes pelo meio. Todo o agrupamento formado em determinado meio - como é formado pela aproximação dos indivíduos seus componentes, e esses indivíduos se aproximam e se entendem por o que há neles de comum, que é o que neles é produto do meio - é pois um reflexo desse meio. O agrupamento que faz uma revolução tem pois a mesma mentalidade e o mesmo carácter que o agrupamento que essa revolução derruba e substitui. Uma revolução pode pois definir-se «um modo violento de deixar tudo na mesma».
Como, pois, se reforma uma sociedade? É simples: por um movimento não colectivo, isto é, por um impulso puramente individual. Há dois tipos de indivíduo em que a influência do meio é subordinada à da hereditariedade: são as duas variações extremas chamadas o louco e o génio - variações, aliás, aparentadas, pois o génio, seja o que for socialmente, é biologicamente loucura. Não há reforma social que não parta de um homem de génio. D'esse homem de génio passa para uma pequena minoria, desse pequena minoria para uma minoria maior, até que alastra para a sociedade inteira. Não é, pois, inteiramente absurdo o conceito «providencialista» da vida das sociedades: a civilização é obra de homens de génio, (...)
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
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