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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Meus gestos não sou eu.

Meus gestos não sou eu.

Como o céu não é nada,

O que em mim não é meu

Não passa pela estrada.

O som do vento dorme

No dia sem razão.

O meu tédio é enorme.

Todo eu sou vácuo e vão.

Se ao menos uma vaga

Lembrança me viesse

De melhor céu ou plaga

Que esta vida! Mas esse

Pensamento pensado

Como fim de pensar

Dorme no meu agrado

Como uma alga no mar.

E só no dia estranho

Ao que sinto e que sou

Passa quanto eu não tenho,

Está tudo onde eu não estou.

Não sou eu, não conheço,

Não possuo nem passo.

Minha vida adormeço

Não sei em que regaço.

24-10-1913?

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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