Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

V - Ténue, roçando sedas pelas horas,

                V

Ténue, roçando sedas pelas horas,

Teu vulto ciciante passa e esquece,

E dia a dia adias para prece

O rito cujo ritmo só decoras...

Um mar longínquo e próximo humedece

Teus lábios onde, mais que em ti, descoras...

E, alada, leve, sobre a dor que choras,

Sem querer saber de ti a tarde desce...

Erra no anteluar a voz dos tanques...

Na quinta imensa gorgolejam águas,

Na treva vaga ao meu ter dor estanques...

Meu império é das horas desiguais,

E dei meu gesto lasso às algas mágoas

Que há para além de sermos outonais...

s. d.

«Passos da Cruz». Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

 - 41.

1ª publ. in Centauro , nº 1. Lisboa: Out.-Dez. 1916.