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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

X - Aconteceu-me do alto do infinito

                X

Aconteceu-me do alto do infinito

Esta vida. Através de nevoeiros,

Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,

Vim ganhando, e através estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos

Vagos ao longe, e assomos passageiros

De saudade incógnita, luzeiros

De divino, este ser fosco e proscrito...

Caiu chuva em passados que fui eu.

Houve planícies de céu baixo e neve

Nalguma coisa de alma do que é meu.

Narrei-me a sombra e não me achei sentido

Hoje sei-me o deserto onde Deus teve

Outrora a sua capital de olvido...

s. d.

«Passos da Cruz». Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

 - 51.

1ª publ. in Centauro , nº 1. Lisboa: Out.-Dez. 1916.