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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

XI - Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela

                XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela

E oculta mão colora alguém em mim.

Pus a alma no nexo de perdê-la

E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro em mim gela,

E o leve Outono, e as galas, e o marfim,

E a congruência da alma que se vela

Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso... E a hora como um leque fecha-se...

Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...

O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se...

E, abrindo as asas sobre Renovar,

A erma sombra do voo começado

Pestaneja no campo abandonado...

s. d.

«Passos da Cruz». Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

 - 53.

1ª publ. in Centauro , nº 1. Lisboa: Out.-Dez. 1916.