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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

No alto da tua sombra, a prumo sobre

No alto da tua sombra, a prumo sobre

A inconstância irreal de vida e dias,

Achei-me só e vi que as agonias

Da vida, o tédio as finda e a morte as cobre.

Ali, no alto de ser, sentir é nobre,

Despido de ilusões e de ironias.

Não sinto as mãos unidas, que estão frias,

Não sei de mim, o que fui era pobre.

Mas mesmo nessa altura de mistério

E abismo de ascensão, não encontrei

Paragem, conclusão ou refrigério.

Deixei atrás o acaso de viver,

O ser sempre outrem, a escondida lei,

Caos de existirmos, névoa de o saber.

14-9-1919

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

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