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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

II - Não seria possível uma rigorosa análise do livro extraordinário…

II

Não seria possível uma rigorosa análise do livro extraordinário do sr. A[lberto] C[aeiro] se, preliminarmente, não facilitássemos - senão levássemos - essa análise num afastamento dos elementos perturbadores dele - elementos esses da criação do sr. A.C.

Entre as afirmações contidas no seu livro o sr. A.C. faz 5 afirmações, repetida e lapidarmente, a respeito de si próprio como poeta. Essas afirmações entram na lógica da sua obra e da sua filosofia. Concebendo a sua teoria metafísica tal qual a concebe, é natural que o sr. A.C. se conceba a si-próprio como sendo o género de poeta naturalmente concebível como sendo autor de tal obra.

Veremos adiante qual é a teoria, e qual é a essência prática do livro do sr. A.C. Por ora fixemo-nos nas suas 5 afirmações a seu próprio respeito.

Pretende o Poeta de si-próprio que é (1) um poeta materialista, (2) um poeta concreto, i[sto] é, das coisas sem acréscimo de ideias preconcebidas, (3) um poeta espontâneo, (4) um poeta da Natureza, isto é, anti-metafísico, e (5) um poeta ingénuo e simples.

São, repare-se, 5 afirmações diferentes. Noto isto porque parece haver identidade entre algumas.

*

Vamos contestar, seriatim e radicalmente, estas 5 pretensões do sr. A.C. Antes, porém, precisamos fazer notar que o que vamos contestar não é que a obra do sr. A.C. não seja todas essas 5 coisas que ela pretende ser. Sem dúvida nenhuma que a sua obra é materialista, naturalista, concreta, espontânea de aspecto e origem, simples no modo de sentir e exprimir. Tudo isto - com que extraordinário valor e originalidade, veremos depois - é o livro do sr. Caeiro.

Distingamos, porém, na obra, as teorias dos processos, o lugar a que se chega da estrada que para lá se segue.

s.d.

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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«A. C. - Artigo para A Águia»