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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

Sim, talvez tenham razão.

Sim, talvez tenham razão.

Talvez em cada coisa uma coisa oculta more,

Mas essa coisa oculta é a mesma

Que a coisa sem ser oculta.

Na planta, na árvore, na flor

(Em tudo que vive sem fala

E é uma consciência e não o com que se faz uma consciência),

No bosque que não é árvores mas bosque,

Total das árvores sem soma,

Mora uma ninfa, a vida exterior por dentro

Que lhes dá a vida;

Que floresce com o florescer deles

E é verde no seu verdor.

No animal e no homem entra.

Vive por fora por dentro

É um já dentro por fora,

Dizem os filósofos que isto é a alma

Mas não é a alma: é o próprio animal ou homem

Da maneira como existe.

E penso que talvez haja entes

Em que as duas coisas coincidam

E tenham o mesmo tamanho.

E que estes entes serão os deuses,

Que existem porque assim é que completamente se existe,

Que não morrem porque são iguais a si mesmos,

Que podem mentir porque não têm divisão [?]

Entre quem são e quem são,

E talvez não nos amem, nem nos queiram, nem nos apareçam

Porque o que é perfeito não precisa de nada.

4-6-1922

“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,

1994.

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