Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Alberto Caeiro

Leram-me hoje S. Francisco de Assis.

Leram-me hoje S. Francisco de Assis.

Leram-me e pasmei.

Como é que um homem que gostava tanto das coisas,

Nunca olhava para elas, não sabia o que elas eram?

Para que havia de chamar minha irmã à água, se ela não é minha irmã?

Para a sentir melhor?

Sinto-a melhor bebendo-a do que chamando-lhe qualquer coisa.

Irmã, ou mãe, ou filha.

A água é a água e é bela por isso.

Se eu lhe chamar minha irmã,

Ao chamar-lhe minha irmã, vejo que o não é

E que se ela é a água o melhor é chamar-lhe água;

Ou, melhor ainda, não lhe chamar coisa nenhuma,

Mas bebê-la, senti-la nos pulsos, olhar para ela

E isto sem nome nenhum.

21-5-1917

“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,

1994.

 - 133.