As coisas são, para as nossas sensações, belas. - T
As coisas são, para as nossas sensações, belas. Portanto a beleza in‑se, beleza ideal é uma realidade.
Se esta beleza ideal for real, pois que não é da mesma ordem das coisas, e é, quero dizer, uma ideia; ou ambas as ideias e coisas existem realmente, ou uma é mais real que a outra, existindo ambas, ou uma é real e outra irreal, uma verdadeira e a outra falsa. Examinemos estas hipóteses.
Por exemplo, dizer que a ideia de espaço e das coisas mensuráveis são igualmente reais, é na minha maneira de ver um juízo errado. Pois as coisas deste mundo existem por ideias. (...)
Dizer que as ideias e as coisas são reais, umas mais que outras, é evidentemente mau juízo, não só porque o mundo nos surge por ideias mas também porque a realidade não tem graus. Uma coisa existe ou não existe. Isto é tudo e nada mais é necessário.
Mantém‑se a hipótese que uma é verdadeira e a outra falsa. Então qual é a verdade e qual é a aparência? As coisas pelas quais as coisas existem, ou as que existem em virtude de outras? É, pois, evidente que as ideias são reais e as coisas são sombras e falsidade encarnada.
— Mas, podem‑nos responder que estas ideias nada são.
— Pois bem, se nada forem, então o universo exterior nada é, pois existe por elas. Por ambas razões, o mundo não
é nada. É uma sombra e um sonho; é, como disse o velho filósofo, o brincar de uma criança na areia.
Textos Filosóficos. Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
- 88.Trad.: Manuela Nogueira