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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

A nada imploram tuas mãos já coisas,

A nada imploram tuas mãos já coisas,

Nem convencem teus lábios já parados,

        No abafo subterrâneo

        Da húmida imposta terra.

Só talvez o sorriso com que amavas

Te embalsama remota, e nas memórias

        Te ergue qual eras, hoje

        Cortiço apodrecido.

E o nome inútil que teu corpo morto

Usou, vivo, na terra, como uma alma,

        Não lembra. A ode grava,

        Anónimo, um sorriso.

5-1927

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

 - 106.

1ª publ. in Presença , nº 6. Coimbra: Jul. 1927.