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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ó meu amor! ó meu damasco, ó minha seda.

Ó meu amor! ó meu damasco, ó minha seda,

Ó meu guizo de prata,

Meu colar de pérolas deixado em cima da cómoda,

Minha aliança de ouro em dedos já velhinhos e fieis,

Minha cantiga de raparigas ao poente,

Ó meu fumo de cigarro, tão inútil e tão necessário,

Minha Bíblia para as crianças brincarem,

Minha amante que eu queria trazer ao colo como uma filha...

Olha, tenho as mãos em febre...

Tenho a testa a escaldar, tenho os olhos muito estranhos...

Todos olham para o brilho dos meus olhos e espetam-se neles...

Eu tenho febre e tenho sede e lembro-me de ti por causa disso

Porque se eu te tivesse como te quereria ter

(Não sei se é de um modo físico, ou de um modo psíquico)

Eu não teria nem febre, nem sede, nem a testa a arder,

Nem os olhos secos, muito secos, sob a fronte...

Tu não sabes o que tem sido a minha vida!...

Tu não sabes que martírio tem sido o meu...

Se tu soubesses o que é amar as coisas simples e calmas

E não ter jeito para procurar senão as outras coisas!

Se tu soubesses porque é que quando eu estou na minha quinta de dia

Tenho saudades dela como se não estivesse lá...

Se tu soubesses o que eu sinto à noite, nos hotéis, pelas ruas,

Se tu soubesses! Mas eu próprio não sei o que é que sinto...

Minha lantejoula, minha casa de bonecas,

Ó meus brinquedos da minha infância atados com cordéis!

Ó meu regimento que passa com a banda à frente,

Minha noite no circo, nos cavalinhos, a rir dos palhaços...

Ó minha (...)

s.d.

Poemas de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. (Edição crítica de Cleonice Berardinelli.) Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.

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Álvaro de Campos?