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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Não digas nada! Que hás-me de dizer?

Não digas nada! Que hás-me de dizer?

Que a vida é inútil, que o prazer é falso?

Di-lo de cada dia o cadafalso

Ao que ali cada dia vai morrer.

Mais vale não querer.

Sim, não querer, porque querer é um ponto,

Ponto no horizonte de onde estamos,

E que nunca atinges nem achas,

Presos locais da vida e do horizonte

Sem asas e sem ponte.

Não digas nada, que dizer é nada!

Que importa a vida, e o que se faz na vida?

É tudo uma ignorância diluída.

Tudo é esperar à beira de uma estrada

A vinda sempre adiada.

Outros são os caminhos e as razões.

Outra a vontade que os fará seus.

Outros os montes e os solenes céus.

8-7-1934

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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