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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Mas ah! se a morte, sem ser nada ou noite,

Mas ah! se a morte, sem ser nada ou noite,

Não explicasse nada, e eternamente

Vagabundos conscientes do erro eterno,

Nossas presenças pávidas girassem

Na eterna circunferência do mistério

Exuis do abstracto centro! Ah! Quem nos diz

Que aquele horror, que toda a vida fita

E não quer ver, nos não conduz a outra

Espécie de vida, sem ser esta salvo

Em não saber mais nada da verdade?

Quem diz que quando a vida cessa acaba

A ilusão, ou que a morte, libertando

Da limitada personalidade,

Em outra nos lança, sempre longe

Do ignoto ponto onde já nada é falso?

Ah! quão melhor não fora, como as aves

Ou animais dos montes e das selvas

Não conhecer de longe cousa alguma!

Porque mistério é que as estrelas fixas

Nos ergueram do chão, e a pé puseram,

Instável, o seguro animal certo

Na sua marcha olhando para o chão?

Passam os Deuses, e o próprio uno Deus

Não dura. As crenças como nuvens deixam

Os homens, e o mistério permanece.

Será porém melhor que encontrássemos

A verdade, ou que não a achemos nunca?

Quem caberá melhor ou a (...)

Ou à felicidade?

Canto das aves, som dos rios, som

Das árvores movendo-se na calma,

Quando distais do que eu mal sei que sou!

Qual é diferença entre nós que eu

(...)

13-6-1917

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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