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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Não: devagar.

Não: devagar.

Devagar, porque não sei

Onde quero ir.

Há entre mim e os meus passos

Uma divergência instintiva.

Há entre quem sou e estou

Uma diferença de verbo

Que corresponde à realidade.

Devagar...

Sim, devagar...

Quero pensar no que quer dizer

Este devagar...

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.

Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.

TaIvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...

Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...

O que é que tem que ser devagar?

Se calhar é o universo...

A verdade manda Deus que se diga.

Mas ouviu alguém isso a Deus?

30-12-1934

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

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