O génio é o conseguimento, pela inteligência racional,
O génio é o conseguimento, pela inteligência racional, do que é próprio conseguir só pela inteligência analógica ou intuitiva, e, por outra, o conseguimento pela inteligência intuitiva do que é próprio conseguir só pela inteligência racional. Tem-se dito, muitas vezes, que o génio é como um prenúncio da humanidade futura. Mais justo fora dizer que é um prenúncio do estado futuro da humanidade, em que se opere a fusão das duas inteligências, ao mesmo tempo que se opera superiormente a vera fusão, no novo Cristo, das duas Naturezas.
Para conseguir, pela inteligência racional, o que verdadeiramente só a inteligência intuitiva consegue, é preciso atingir um estado de inteligência em que (1) se vive na abstracção com a mesma vitalidade da alma com que se vive no concreto, (2) se consiga raciocinar sem preconceito mas prisão à pessoa, fazendo a razão, não, como no homem natural, por desenvolvido que esteja, a serva esclarecida da emoção e do desejo, senão, não só a dominadora, mas a liberta dele, (3) se possa imaginar com a inteligência, (...) (3) se erga a inteligência acima da unidade, vivendo a contradição logicamente como começou a fazê-lo Hegel, seguindo de longe e com maiormente, o traço dado, um pouco ocultamente, mas também um pouco empiricamente, por Heraclito.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 249.N. do A.: «Bandarra»