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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Assim como a inteligência dialéctica, que tem nome razão,

Assim como a inteligência dialéctica, que tem nome razão, domina e compõe todos os elementos, com que se forma o conhecimento científico, assim também a inteligência analógica, que não tem nome especial, domina e compõe todos os elementos de que se forma o conhecimento oculto. A perfeição da obra material é um todo perfeitamente ordenado, em que cada parte tenha seu lugar e em seus modo e grau concorra para a formação do todo; a perfeição da obra espiritual é a correspondência exacta entre o interior e o exterior, entre a «alma» e o «corpo», de sorte que o conhecimento de um envolva necessariamente o conhecimento completo de outro. A Grande Obra é aquela em que o «metal», sendo composto, segundo a razão, de modo a ser o «ouro», material perfeito, seja, no mesmo acto, composto, segundo a analogia, de modo a ser o «ouro» espiritual simbolizado. Nestas palavras vai a distinção íntima entre a produção artificial do «ouro» segundo a alquimia, e essa mesma produção segundo a ciência. Em ambos casos o «ouro» material será idêntico como matéria, mas o ouro que a ciência produzir não será mais que ouro, pois que, ao fabricá-lo, ela não buscou produzir senão ouro, e o «ouro» que a alquimia produzir será mais que ouro, pois que, ao «fabricá-lo», ela buscou produzir, não só o ouro, senão também o segredo do ouro, ou o segredo áureo. O ouro da ciência será igual ao ouro da Natureza como efeito; o ouro da alquimia igual ao ouro da Natureza não só como efeito, senão também como causa.

s.d.

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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N. do A.: «Bandarra»

1ª publ.: Obra Poética e em Prosa. Vol. II. Fernando Pessoa. (Introduções, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986.